Cegaste?

Vês-me. Sou uma pessoa perto da perfeição, mais que perfeita, dizes tu às vezes. Sem fazer parte da tua família, sou a pessoa que tu mais amaste em toda a tua vida. Sou o amor da tua vida e nunca te vais fartar de mim. Queres casar comigo, ter um lar e construir família. Sonhamos. Tenho uma forte personalidade, ora doce, ora amarga. Amas-me, odeias-me. Beijas-me, afastas-me. Sou inteligente e esperta. Gostas dos meus olhos e do meu cabelo. Gostas do meu corpo. Sou linda em todos os sentidos possíveis. Sou o teu único interesse e por isso, a tua prioridade. Dás-me toda a atenção do mundo. Queres-me para toda a eternidade.

Vias-me.

Olhas-me. Sou uma pessoa como outra qualquer. Sou só mais uma comum mortal de olhos castanhos e cabelo comprido, também ele castanho. Sou só mais um rosto no meio da multidão. Sou quase perfeita, tenho uma personalidade como todas as outras. Sou chata, aborrecida, implicativa, egoísta, injusta, parva e estúpida. Fartas-te de mim. Odeias-me. Afastas-me. Sonho sozinha. Sou um dos teus principais interesses, estou entre as tuas prioridades. Dás-me toda a atenção que podes (queres). Queres-me, gostas de mim. Estás farto, afastas-me.

Já não vês.

Estreia


Não consigo encontrar palavras para descrever o bater acelerado do meu coração. Na verdade, já nem me lembro bem. Não era a primeira vez que sentia o meu coração bater descompassadamente, mas foi a primeira vez que senti que ele me queria saltar do peito.
Perdida no nervosismo, achei ali a minha última oportunidade de ter tudo aquilo que eu sempre quis de volta. Procurei-te no meio de todos os nossos colegas e lá estavas tu, a conversar e a rir com um deles, como para esconder o medo de enfrentar o público que nos consumia a todos. Fiz sinal ao outro para que se afastasse e não disse nada. Aproximei-me de ti, peguei na tua mão e coloquei-a sobre o meu peito. Estás mesmo nervosa. Pois estava, agora mais ainda. Tinha sentido as faíscas no momento em que te agarrei a mão, sabia que não tinha sido só eu. Nós ainda estávamos vivos, mais ainda do que o meu coração te mostrava naquele momento. Trocámos olhares, desejámos boa sorte um ao outro e virámos costas.
O momento por que tanto ansiávamos chegou. Pusemo-nos nos nossos devidos lugares e olhámos todos uns para os outros com um falso sorriso na cara como uma espécie de sinal de boa sorte. O pano correu. Tirando o facto de tu teres esquecido algumas das tuas falas, a peça correu lindamente sem maiores percalços. O pano correu, olhámo-nos e o pano correu novamente. Agradecemos e esperámos que o pano voltasse a correr. Que experiência fantástica...
Conversavam todos em grupo quando cheguei, sentei-me propositadamente no lugar vazio atrás de ti. Viraste-te para trás assim que me sentei, olhaste-me nos olhos como sabias que eu adorava que fizesses, sorriste para mim durante uns segundos, agarraste-me e beijaste-me. Este é um dos meus momentos favoritos que recordo com especial carinho. Já com um sorriso na cara de novo, perguntei-te Correu bem, não correu? Sorriste-me de volta. Optimamente. Mas está a correr ainda melhor agora que acabou.
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