Ante-estreia


Era o dia para o qual tínhamos trabalhado durante seis meses inteiros, o dia pelo qual tínhamos esperado impacientemente durante todo aquele tempo. Sabíamos todas as nossas falas de trás para a frente e mesmo assim continuávamos a sentir aquela sensação na barriga de tão nervosos que estávamos.
Lembro-me perfeitamente de como tinham acabado as coisas na semana anterior, era a primeira vez que te via depois de termos destruído tudo, mesmo contra a nossa própria vontade. Estavas diferente naquele dia, estavas especialmente triste. Notava-se bem que algo se passava, notava-se tão bem que toda a gente reparou, mesmo as pessoas que não te conheciam ou que simplesmente não gostavam de ti. Mas eu gostava, mais do que qualquer outra pessoa presente ali ou em qualquer outra parte do mundo.
Apesar de seres o actor principal, tinhas ficado quase toda a manhã deitado num pequeno sofá que lá havia. Tinhas estado a evitar-me durante quase toda a manhã, finalmente ganhei coragem para me sentar ao teu lado e fiz-te a pergunta mais parva do mundo: Que é que se passa? Respondeste-me com outra pergunta no teu tom irónico tão familiar: Que é que achas que se passa? Não sabia o que havia de dizer, olhei para ti e disse: Desculpa. Perguntaste-me porquê visto que ainda no dia anterior achava que não tinha feito nada de mal. Desculpa por ter dito aquilo que disse, desculpa por ter falado daquela maneira contigo... Limitaste-te a dizer um ok, desculpas aceites. Queria perguntar-te se achavas que alguma vez íamos poder estar juntos de novo, mas essa ia ser uma pergunta igualmente idiota. Levantei-me e saí.
O tempo ia passando e à medida que a hora do espectáculo se aproximava e que a plateia se enchia de gente, ficávamos cada vez mais nervosos.

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